"DENTRO DOS TEUS VERSOS ENCONTREI REFLEXOS, PEDAÇOS DE MIM" Rosana Souza.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
O GRITO PRESO
o grito preso de um poema nunca escrito
teima em assombrar o alvorecer dos meus poemas...
algo a dizer que só tem sentido se não dito,
algo sagrado com vivência de maldito,
algo profundo que se perde de tão raso...
e minha alma, como presa por raízes
arrasta as pernas cobertas de varizes
para ensaiar dar um passo nunca dado.
mas nada sai, nada anda, só se esvai
como que se o esforço realizado
fosse esforço ou tão pouco ou tão demais
que a luz que traz para explorar meu lado escuro
sempre chega muito cedo ou com atraso.
assim o meu segredo, amedrontado
se esconde no espelho do futuro
aguardando outra vez ser desvendado
e o poema, a tentar pular o muro
para ver o que existe do outro lado
vê apenas vislumbres de um tormento
que parece ter feito um juramento
de só se deixar ver se mascarado.
insistente, vou além e me aventuro
a voar no meu inferno disfarçado
de ódio, medo, inveja, orgulho e outros entulhos.
me queimo neles, morro um pouco em seus caminhos
e quando vejo me percebo tão sozinho
como pode quem de si acompanhado.
olho em torno e sinto então uma presença
que vem de dentro, lá do centro, como um mito
vestido de um silêncio atordoado.
e sem saber por que, sei que o grito
que nunca dei porque sou eu sendo gritado
é apenas minha centelha de infinito
tentando retornar ao Incriado.
Hugo Leal
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