sábado, 3 de maio de 2008

TEMPUS FUGIT

O QUE O TEMPO DIS PARA OS MEUS OLHOS


o tempo, navegando por meus olhos

desbotou a nuvem cinza que eles viam

quando ainda grumete de meu barco

aprendia sobre o leme do destino.

felizmente, os meus sonhos de menino

irrigados pela chuva dos meus prantos

não morreram nem viraram desencanto

e a mágoa – muita mágoa, choveu tanto! -

não fez germinar ervas daninhas.

se doeu? ah, doeu de não ter jeito...

mas meu peito aprendeu a ler direito

as mensagens que traziam as entrelinhas

na surpresa espantosa dos milagres

que surgiram a cada instante no caminho.

hoje, mesmo a prata dos cabelos

não me traz mais o medo da velhice.

nem o corpo, utilizado pelos anos,

realizando travessuras bem mais lento,

me impede de estar no meu momento

como o vento na carona de uma brisa.

o fracasso, este sucesso disfarçado

que me recria em outras tentativas

há muito não me soa resultado

e sim indicador de alternativas.

não estou cansado, somente ritmado

num bolero calmo e apaixonado

para gozar cada minuto integralmente.

sei que Deus, a quem julgava preocupado

em ver o cosmos girar maquinalmente

como um grande relógio meio atrasado

correndo atrás de um tempo elaborado

para ser e acontecer pontualmente,

na verdade está mais interessado

em ter na criatura não um criado

mas sim um co-autor, impulsionado

para crescer, sempre e eternamente

rompendo seus limites, planejados

para que possa, os quebrando continuamente

compreender que sua meta é ultrapassá-los

e descobrir o inconcebível que há em frente.

sei também que este Deus, inexplicável

na força de seu amor inexprimível

foi tão longe que tornou quase impossível

para o homem não tocar o inatingível

mesmo quando sequer creia em sua existência.

porque a essência, seja ela Deus ou acaso

leva o espírito, seja este alma ou mente

a apenas sendo bom se sentir vivo integralmente

a somente perdoando perdoar-se plenamente

e a só por ter a aurora aceitar haver o ocaso.

por isso eu, mesmo crendo plenamente

e o que não crê, ou quem crê diferencialmente

em outra forma de comando onisciente

- talvez exista uma para cada um da gente -,

somos todos condenados ao infinito,

ao mistério, ao fascínio, ao encantado,

à maravilha do silêncio após o grito

que ao dizer ”seja” nos fez, e ao dizer “dure” deu vez

a cada ser, a cada ver, a cada atrito

que nos polindo põe em nós um brilho aflito

querendo brilhar mais, voar no próprio mito,

purgando seus delitos, e livre de detritos

mostrar que o homem pode, isento de conflitos

ser tão bonito como um raio de esperança

que quando estivermos prontos vai chegar

e nascendo da consciência que já avança

implantar a necessidade da mudança

saudando o mundo com seus olhos de criança

e se espalhando como um canto pelo ar...



HUGO LEAL.

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