não acredite, menina, nos que dizem
que o amor é isso, aquilo, ou não sei que...
o amor é indescritível, inenarrável,
e maior – bem maior – que seus porquês.
cresce nas fendas da montanha do destino
e floresce na estação que vê você.
não tem igreja, não tem credo, não tem hinos...
mais que isso, é a mão de Deus que toca os sinos
que definem seu instante de nascer.
nascer, não... ele é eterno e cristalino
como o que vem do Incriado deve ser.
nos ocupa, nos completa, nos domina,
não importa o que diga o raciocínio
que o chamado senso humano possa ter.
é uma força permanente do universo
traduzida em riso, pranto, prosa e verso
manifesta no uno e no diverso
tão somente pela soma dos inversos
que há nos atos de se dar e receber.
mas não pense, menina, que a escolha
é feita na abrangência da razão.
o amor surge, indiferente ao que se pense
se implanta sem aviso, de repente
e cravando sua raiz além da mente
surpreende o distraído coração.
e aí, o amor fica, simplesmente,
como parte integrante já da gente,
dirigindo pensamentos e emoção
numa canção para a qual todos são surdos
menos os agraciados por sua benção...
é que o amor, com seus olhos de menino,
cego para tudo que não é divino,
não carece nem apresenta explicação...
por isso, muitas vezes, o seu caminho
em segredo faz a água virar vinho,
em silêncio multiplica peixe e pão,
atravessando as fronteiras do impossível,
mergulhando nas leis do inconcebível,
indo além do que permite a compreensão.
e é assim que o amor resiste e vence...
sendo de Deus, vive Deus e em Deus convence
transformando o amargo fel em mel doçura
extraindo da loucura sua ventura
e fazendo da distância sua fusão.
Hugo Leal
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