terça-feira, 6 de maio de 2008

CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMOR

não acredite, menina, nos que dizem

que o amor é isso, aquilo, ou não sei que...

o amor é indescritível, inenarrável,

e maior – bem maior – que seus porquês.

cresce nas fendas da montanha do destino

e floresce na estação que vê você.

não tem igreja, não tem credo, não tem hinos...

mais que isso, é a mão de Deus que toca os sinos

que definem seu instante de nascer.

nascer, não... ele é eterno e cristalino

como o que vem do Incriado deve ser.

nos ocupa, nos completa, nos domina,

não importa o que diga o raciocínio

que o chamado senso humano possa ter.

é uma força permanente do universo

traduzida em riso, pranto, prosa e verso

manifesta no uno e no diverso

tão somente pela soma dos inversos

que há nos atos de se dar e receber.

mas não pense, menina, que a escolha

é feita na abrangência da razão.

o amor surge, indiferente ao que se pense

se implanta sem aviso, de repente

e cravando sua raiz além da mente

surpreende o distraído coração.

e aí, o amor fica, simplesmente,

como parte integrante já da gente,

dirigindo pensamentos e emoção

numa canção para a qual todos são surdos

menos os agraciados por sua benção...

é que o amor, com seus olhos de menino,

cego para tudo que não é divino,

não carece nem apresenta explicação...

por isso, muitas vezes, o seu caminho

em segredo faz a água virar vinho,

em silêncio multiplica peixe e pão,

atravessando as fronteiras do impossível,

mergulhando nas leis do inconcebível,

indo além do que permite a compreensão.

e é assim que o amor resiste e vence...

sendo de Deus, vive Deus e em Deus convence

transformando o amargo fel em mel doçura

extraindo da loucura sua ventura

e fazendo da distância sua fusão.



Hugo Leal

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